Minas me fez poeta

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Por: Flávia Nunes

Mais uma vez Arlindo trouxe a Belo Horizonte o show “Batuques do meu lugar”. O nome escolhido para o CD remete às fontes da arte do cantor e compositor: batuques sagrados e profanos, afirmando fé na vida, no amor e na música. “Eu adoro toda vez que venho a Belo Horizonte, sinto que o povo me ama e tem um carinho com meu trabalho, é sempre bom ser bem recebido”, destaca.

Arlindo Cruz é, com certeza, um dos maiores sambistas do Brasil. Herdeiro de uma linhagem musical originados do samba, na Casa da Tia Ciata com Donga, Pixinguinha e Joāo da Baiana, passando pelas rodas de samba promovidas por Candeia, chegando aos pagodes no Cacique de Ramos e o grupo Fundo de Quintal, ele traz o orgulho, o legado das religiões afro-brasileiras.

Cantor, compositor e instrumentista, Arlindo Cruz começou a carreira de compositor disputando e ganhando festivais de música em Minas Gerais, onde estudou na escola preparatória de Cadetes do Ar. “Minas me fez poeta, aqui comecei a compor minhas primeiras canções”, revela Arlindo.
No Brasil inteiro e em Minas Gerais, as letras de Arlindo Cruz e parceiros animam as pessoas nas rodas de samba. São mais de 500 composições gravadas
por diversos cantores no decorrer de sua carreira. Arlindo se considera um artista esclarecido, pois consegue com suas composições dialogar com
Monarco e Thiaguinho. “Gosto muito de aprender com as pessoas e com meu filho, porque acredito que posso aprender muito com a nova geração”, destaca.

E não é para menos, além de vencer a disputa de sambas para dar vida ao enredo da escola de samba Unidos de Vila Isabel, em 2014, o cantor também concorreu ao prêmio Grammy Latino de melhor canção, com o samba “Vai embora tristeza”. Já o Samba “Retratos de um Brasil Plural”, da GRES Unidos de Vila Isabel, composto por Evandro Bocão, Arlindo Cruz, André Diniz, Professor Wladimir e Arthur das Ferragens foi o grande escolhido para 2014 e promete mais uma vez arrepiar a Sapucaí. “É maravilhoso e vem coroar a minha essência de trabalho”, disse Arlindo Cruz.

Muitos sambistas de grande nome no cenário nacional vêm a Belo Horizonte e visitam algumas rodas de sambas que temos pela cidade. Como um bom sambista, Arlindo não é diferente, teve o prazer de conhecer alguns artistas e compositores mineiros. E destaca que em Minas Gerais temos grandes músicos e que também fazemos samba de qualidade.

Segundo o cantor, temos grandes artistas mineiros como: Toninho Gerais, Aline Calixto, Fabinho do Terreiro e o grupo Só pra Contrariar, um ícone do samba dos anos 90, grupo que fez muito sucesso e está voltando com força total. Na história do samba em Minas Gerais temos compositores de grande destaque e importância, como Ary Barroso e Ataulfo Alves.

Não podíamos deixar de destacar a participação do cantor no Programa “Esquenta”, mais um desafio desse artista que inova comandando o programa ao lado de Regina Casé e outros sambistas de peso. “A Regina é a maior representante de todas as classes sociais, ela consegue transitar na zona sul e periferia com a maior dignidade. O “Esquenta” é um programa que todo mundo se identifica porque o Brasil é isso, uma mistura, e eu estou no meio desse ‘Esquenta’”, destaca Arlindo.

Arlindo Cruz deixa um recado para todos os que querem trilhar o caminho de sucesso. “É preciso amar o samba, prestar atenção e ouvir bastante os antigos, e contemporâneos. Então, agradeço a todos os meus parceiros que me ajudam e contribuem bastante, nessa tarefa que é fazer o samba de raiz”.

Paixão Pelo Samba

A paixão entre Arlindo Cruz e o samba começou quando ele nem conhecia as primeiras letras. Aos sete anos ganhou o seu primeiro instrumento – quem diria, um cavaquinho – e aos 12 anos já sabia tirar músicas de ouvido com uma habilidade que deixava as pessoas maravilhadas. Seu pai o incentivou a estudar teoria musical, solfejo e violão clássico. Nesse momento surgiu a primeira oportunidade de trabalhar como músico com Candeia, sambista, cantor e compositor brasileiro falecido em 1978, que ele considera como padrinho e com quem gravou seus primeiros discos. Na época, gravou um compacto simples e um LP chamado “Roda de Samba”.

Mas foi no Cacique de Ramos, um dos blocos mais tradicionais do Rio de Janeiro, berço de alguns talentos no samba, que Arlindo teve os primeiros contatos com alguns nomes que mais tarde, viriam a ter destaque no samba brasileiro como Jorge Aragão, Almir Guineto, Beth Carvalho, entre outros. Quando Jorge Aragão se afastou do grupo “Fundo de Quintal”, Arlindo foi convidado a fazer parte do grupo, no qual permaneceu por 12 anos. Arlindo Cruz saiu do “Fundo de Quintal” em 1993 e começou sua carreira solo se destacando nas composições de sambas enredo.

Conquistou a primeira vitória para a sua escola de coração – Império Serrano – em 1996, quando compôs o hino imperiano, com um dos sambas mais bonitos daquele ano: “E verás que um filho teu não foge à luta”. Essa vitória trouxe outras para a sua biografia, repetindo em 1999, 2001 – samba que ganhou o Estandarte de Ouro do jornal O Globo -, 2003, 2006 e 2007. Em 2008 concorreu pela primeira vez na Grande Rio e venceu com o enredo “Do Verde de Coarí Vem Meu Gás, Sapucaí!”. Em 2013 conquistou a vitória com GRES Unidos de Vila Isabel com o enredo: “A Vila Canta o Brasil, Celeiro do Mundo”.

Revista Fui Sambar - Fevereiro/2014

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